Acho que sou adotada.

Família, família, família!
Gostaria que todos conhecessem a minha. Hoje é dia de feijoada. Eu DETESTO feijoada. Mas a feijoada não é nada perto da farra que fazem aqui.

A vovó grita, não porque está alterada. Grita porque simplesmente nasceu com o volume no máximo. "Oxe, menino. Mas eu não bebi...", depois de algumas latinhas de cerveja. Meu tio, resmungão e mala, fala mal dos baianos. Detalhe, vovó é baiana. Ela se altera, fica magoada, faz cara de choro. Ele não pára.
Ela argumenta, diz que há pessoas boas e ruins em todo lugar. Ele fala mal de Gil, aquela cantora. Diz que tem vontade de enforcá-la. Acabou o assunto.
Momentos depois, papai cita os cariocas. E então, minha avó diz que todos os cariocas são filhos da puta.
Eu me mato de rir.
"Oxe, vózinha. Mas não tinha gente boa e ruim em todo lugar? Carioca também é gente."
Ela se rende.
Três segundos de silêncio para a Coca-Cola tamanho família. Segundo round. Agora o tema é RELACIONAMENTO. Me escondo como posso. Lembram-se de meu avô, pai de mamãe, poliglota e médico. Depois, lembram-se do pai do meu tio, um maníaco ciumento. Depois de muita discussão, alguém se lembra, eu existo. Sinto que logo terei facas no meu nariz, dizendo que é um absurdo uma menina tão novinha se apaixonando por homens tão mais velhos. Eu não compro mais a briga, cansei.
A feijoada acaba, sobra a louça. Renata lava, eu seco. Morremos de rir com todo o barulho na sala.
Então... alguém tem vontade de comer bolinho de chuva. Imploramos para que mamãe faça. Ela não faz.
Triste e desanimada, eu me retiro, venho para o micro e escrevo essa história boba.

Quem quiser provar da próxima feijoada, está convidado.
:*